É impressionante como alguns temas são mais fáceis que outros. Enquanto em alguns casos as palavras fluem naturalmente, em outros é necessário quase que um exorcismo para que uma frase seja escrita por completa.
O tema do mês de abril foi um desses. A dificuldade maior não foi nem em realmente escrever - mas sim escolher quem seria meu destinatário. Um desconhecido. Como escolher um desconhecido? O que falar para ele? Não foi fácil... Mas confesso que fiquei com vontade de mandá-la para alguém aleatório e ver o que acontece.
Bora ver o resultado?
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Olá estranho,
Nós não nos conhecemos. É impossível conhecer todo mundo, afinal, somos 6 bilhões na Terra. Dizem por ai, contudo, que estamos todos interligados em até seis pessoas. Parece loucura, não é? Entre eu e você existe seis pessoas - somente seis conexões - e mesmo assim, nunca nos falamos.
Sequer sabemos da existência um do outro.
Essa é a parte mais maluca. Vivemos na mesma época. No mesmo ano. Vivemos até no mesmo continente, mesma cidade - mas sua existência passa despercebida por mim. Talvez eu já tenha passado por você entre os milhões que usam transporte público todos os dias - talvez eu já tenha estado dentro do mesmo ambiente que você - mas não te vi de verdade.
E provavelmente você também não...
Não tem problema. Nós conhecemos a geração a que pertencemos. Fones no ouvido, olhos no celular, evitando toques, evitando atenção. Apenas passando um pelo outro, centrados em nossa própria existência, incapazes de olhar para o lado. Incapazes de enxergar o ser humano ao nosso lado.
Ignoramos todos. Principalmente os feios e os necessitados. O único capaz de tirar nossa atenção das telas dos celulares são aqueles que nos atraem fisicamente - e somente por um intervalo curto. Não conhecemos mais ninguém. Temos seguidores, mas não amigos. Temos números no facebook, mas sequer sabemos a data de aniversário um do outro. Ou seus gostos musicais... Ou suas alergias.
Não conhecemos mais ninguém. Não de verdade.
Eu não gosto disso. Quero conhecer as pessoas com quem divido esse mundo, esse país. Quero saber quem é a pessoa que senta ao meu lado na faculdade. Quero poder distingui-lo de todas as outras 6 bilhões de pessoas.
Olá, estranho.
Você estudou comigo pelos últimos cinco anos. Mas não, não nos conhecemos.
Prazer, Luísa.
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