
NaNoWriMo é a abreviação de National Novel Writing Month, um projeto do Office of Letters and Lights que consiste em um mês de incentivo para a produção de livros, dando suporte motivacional para escritores do mundo inteiro.
O projeto funciona em modo de desafio: durante o mês de novembro, o escritor deve superar a meta de 50.000 (50k) palavras. Ou seja, qualquer um pode vencer o desafio, desde que escreva as 50.000 palavras que, em uma formatação Arial, tamanho 12, equivale a aproximadamente 150 páginas.
É um sistema de auto-desafio, pois o autor não escreve para ninguém além dele mesmo. O livro não é digitado no site: o autor pode escrevê-lo na plataforma que preferir, até a mão, bastando manter sua numeração de palavras atualizadas. Ninguém lê o trabalho, apenas o próprio autor, como durante o processo criativo de qualquer obra, mas o desafio está lá para motivá-lo a continuar escrevendo, apresentando estatísticas de avanços e presenteando-o com selos por cada pequena vitória (consistente no número de palavras escritas).
Ano passado, participei no desafio, mas alcancei uma marca de 9.5k palavras. Não tive foco o suficiente, mas dessa vez estou determinada a conseguir esta marca. Como no ano passado, escreverei paralelamente um diário, para registrar meu progresso e meus pensamentos durante o processo criativo. Quem sabe será útil em um futuro próximo (ou distante mesmo).
Além de manter o diário de palavras, também tentarei contar um pouco sobre a criação de personagens e ambientações - sim, já criei algumas coisas, mas muitas serão criadas durante a escrita.
Além de manter o diário de palavras, também tentarei contar um pouco sobre a criação de personagens e ambientações - sim, já criei algumas coisas, mas muitas serão criadas durante a escrita.
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Quer participar também? É fácil.
Escolha uma história e se inscreva no site http://nanowrimo.org/.Sua história está te esperando!
I wish I had enough voice so you could hear me – I wish I was brave enough to tell everything you make me feel. I want some many things with you. I want your many ways of telling that you want to see me. I wanna hold your hand in your pocket ‘cause it’s too cold outside and stare at your eyes.
I wanna wake up one more time in your bed –
mess up your sheets, fight over blankets and sleep in your arms. Wanna wake up
with your kiss on my forehead and go back to sleep with your hands on my back.
I wish I had more time to live and relive all
my days with you. The more I think about how my body reacts to your touch, the
more I wanna be back to the heat of your arms.
I wish our last days together were forever. I
wish, more specifically, that first night could replay over and over again and
we could relive all we share – the music, the smiles, the looks, the hands, the
feelings… I wish it lasted ‘til infinity.
I wish I could, one more time, take you home.
I wish could, one last time, wake up right next
to you.
One last time…
I want you.
VOCÊ ACREDITARÁ EM HERÓIS NOVAMENTE.
Vivemos na era de ouro de filmes
de super-heróis.
Por mais que filmes como X-Men (2000), de Bryan Singer e Homem-Aranha (2002), de Sam Raimi tenham
sido avanços monumentais no que se refere à construção do gênero de filmes
baseados em HQs, não foi até Homem de
Ferro (2008), de Jon Favreau e o já consagrado Batman: O Cavaleiro das Trevas (2008), de Christopher Nolan, que
começamos a ver um verdadeiro renascimento desse tipo de filmes. Ao que isso se
deu?
É possível argumentar que esses filmes eram,
até então, apenas uma forma de apelar para os fãs das histórias originais, sem
se preocupar com tramas e personagens, uma forma de ganhar dinheiro e nada
mais, e que ultimamente essas histórias estão recebendo o respeito que merecem,
tanto por parte dos estúdios quanto por parte dos diretores e fãs. E isso não
está errado.
No entanto, é possível argumentar que se
trata de algo mais simples do que isso. Que nos últimos anos, estamos vendo o
florescimento de filmes de super-heróis com temas.
Filmes que estão tão preocupados em expor uma ideia quanto com fazer dinheiro,
filmes feitos com esmero por pessoas que querem genuinamente que eles deem
certo.
Baseado nessa noção, eu digo que Mulher-Maravilha é o melhor filme de
super-herói desde O Cavaleiro das Trevas.
***
Diana, interpretada por Gal Gadot, é a
princesa das amazonas de Temiscira, uma raça de guerreiras imortais que se
ocultou do mundo dos homens desde a Antiguidade. Quando o piloto americano
Steve Trevor, interpretado por Chris Pine, cai nas praias de sua ilha trazendo
em seu encalço uma esquadra de alemães, Diana se vê impelida a tomar parte de
uma guerra monumental que há pouco tempo ela nem sabia que acontecia.
Com direção de Patty Jenkins (Monster: Desejo Assassino, The Killing, Arrested Development), o longa procura servir como uma história de
crescimento e amadurecimento da protagonista, além de ser uma história de
origem da lendária heroína, tudo no cenário sujo e brutal da Primeira Guerra
Mundial.
A progressão dos cenários é uma história por
si só: partimos da adequadamente nomeada Ilha Paraíso das amazonas e vamos até
a sujeira da Londres industrial no meio do esforço bélico, indo até os horrores
que tomaram lugar no front ocidental,
numa das cenas mais emocionantes e impactantes do filme. Para um filme com
classificação etária PG-13 (impróprio para menores de 13 anos) nos Estados
Unidos, Mulher-Maravilha consegue
mostrar a sua justa parte dos horrores da Grande Guerra, desde os soldados
feridos, mutilados ou mortos que Diana encontra pelo caminho até civis
inocentes que perderam tudo o que tinham para a marcha inexorável do conflito.
Porém, não vá se empolgando: não é nenhum Até
o Último Homem (2016), de Mel Gibson. Apesar de todas essas cenas pesadas,
o roteiro possui um otimismo inato que sobrevive a todos os horrores e
atrocidades que as personagens encontram. No entanto, o clima de desespero e
desesperança impregna toda a segunda metade do longa, num clímax que vai
crescendo a cada cena que passa.
Vale ainda ressaltar que a caracterização
das personagens está impecável, nos quesitos de figurino e maquiagem, tanto na
ilha das amazonas quanto na “Boa e Velha” Londres quanto na escuridão opressiva
das trincheiras. Não há um momento sequer em que se é tirado da experiência do
filme por algo de artificial na roupa das personagens.
Quanto as atuações, temos um filme
particularmente forte. Muito tem se discutido sobre o real talento de Gal
Gadot, uma atriz com pouquíssimos filmes em seu currículo e que, até pouco
tempo, estava prestes a desistir da carreira de atriz. Apesar de não possuir
nem metade da experiência que algumas de suas co-estrelas mais consagradas,
tais quais Connie Nielsen (Rainha Hipólita), Robin Wright (Antíope) e Chris
Pine, Gadot exibe um carisma e uma confiança sem iguais, conquistando cada
segundo que passa interpretando a protagonista, numa performance que mistura
tanto a inocência de Diana perante as facetas mais cinzas da humanidade quanto
a determinação ferrenha da guerreira amazona, vencendo o público com
facilidade. As outras guerreiras amazonas também possuem personalidades
díspares: vemos em Hipólita o feroz desejo materno de manter sua filha em
segurança na Ilha Paraíso, ao mesmo tempo em que Antíope se preocupa com o
treinamento da garota e se ela estará pronta para os sacrifícios que terá de
fazer. No mundo dos homens, temos destaque para o grupo de desajustados convocados
por Steve Trevor para lidar com a ameaça alemã. Temos o charlatão e cafajeste
Sammy que é, nas palavras de Steve, “capaz
de tapear alguém em quase tantas línguas quanto você [Diana]”. O
traumatizado Charlie, um atirador de elite que claramente já passou por sua cota
de batalhas nessa guerra. Chief, o nativo americano que se recusa a tomar
partido num conflito que não é seu, ao mesmo tempo que se recusa a permanecer
alheio ao sofrimento resultante dele. O destaque, no entanto, vai para o
próprio Steve Trevor. Chris Pine tem uma química sem igual com Gal Gadot, e a
relação entre as duas personagens evolui de maneira natural, com diálogos
cativantes e engraçados. O timing de comédia de Pine é espetacular. Trevor se
revela um personagem com múltiplas facetas: um que vê e se horroriza com a
totalidade do conflito em que se encaixa e outro que reconhece que as vezes é
simplesmente impossível salvar todos. Os atritos que ele sofre com Diana são
sempre significativos para a trama e para as personagens, exibindo novas faces
tanto para o público quanto para eles mesmos.
A trilha sonora fica por conta de Rupert
Gregson-Williams (Até o Último Homem, The
Crown), com o já icônico tema composto por Hans Zimmer e Junkie XL,
apresentado pela primeira vez em Batman
vs Superman: A Origem da Justiça (2016), de Zack Snyder. Williams, no
entanto, escolhe segurar o tema tanto quanto pode, preferindo melodias mais
suaves ou austeras, apenas inserindo o tema nas cenas em que Diana assume o
manto de Mulher-Maravilha, seja em suas palavras como nas suas ações. Como um
todo, a trilha sonora é homogênea, com picos aqui e ali, e funciona bem com o
resto do filme, especialmente da metade para frente.
Mulher-Maravilha
é o primeiro filme de ação de Patty Jenkins, com sequências explosivas
espalhadas através de seu tempo de duração. Em entrevistas, ela disse que
tratou essas cenas como todas as outras, o que talvez tenha sido um problema.
Apesar de serem cenas confiantes e bem coreografadas, nota-se uma distinta falta
de ritmo no que se refere à sua execução quando comparadas às cenas dramáticas,
se parecendo menos com “sequências” e mais como “momentos” de ação. Apesar
disso, todas são um ótimo entretenimento que, em um filme em que todo o resto
prioriza a imersão total no período e na história, acabam por lembrar ao
espectador que sim, este é um filme.
A disparidade da qualidade dos efeitos
visuais também é outro ponto negativo. Há vezes em que eles são ótimos, em que
a câmera lenta se une aos atores e é complementada pela trilha sonora e o
resultado é incrível. Outras, uma cena que poderia ter sido realmente excelente
acaba por não atingir seu potencial máximo devido a um CGI mal renderizado.
Diferentemente de Batman vs Superman e Esquadrão
Suicida (2016), Mulher-Maravilha não
sofre grandes problemas de edição ou apresentação. O clima apresentado nos
trailers é aquele presente no filme, e não parece que há cenas faltando no
roteiro ou que foram cortadas na edição. A edição das cenas de ação também é
boa, não apelando para cortes rápidos e tremidos para dar a ilusão de
movimento, ao invés disso optando por planos abertos e cortes espaçados que dão
espaço e tempo para que a coreografia seja devidamente apreciada.
A cinematografia é excelente, contrastando
mais uma vez os planos abertos da terra das amazonas com planos cada vez mais
fechados conforme Diana adentra o mundo dos homens. O uso de cores e saturação
também contribui para levar o uniforme dessa icônica personagem à vida na
grande telona e fazê-lo se tornar verossímil.
O que torna Mulher-Maravilha não só um ótimo filme de super-herói, mas um
excelente filme em geral é a sua preocupação com o tema.
Tema é algo difícil de se definir. Como
regra geral, pode ser descrito como a ideia central por trás de uma história, a
base sobre a qual ela é construída. O tema de Capitão América: Guerra Civil (2016), dos irmãos Russo, por
exemplo, é a tomada de responsabilidade por parte do governo sobre as ações de
um pequeno grupo de indivíduos versus a
liberdade e integridade de ditos indivíduos. O tema de Batman vs Superman, por outro lado, é a pergunta do que acontece quando uma figura quase messiânica
chega a Terra e o impacto que isso tem na vida dos cidadãos. Filmes sem um tema
bem definido ou que não recebe muita atenção sofrem o risco de se tornarem
monótonos e sem sentido, tal qual o Quarteto
Fantástico (2015), de Josh Trank.
Qual o tema de Mulher-Maravilha?
O tema de Mulher-Maravilha é a perda da inocência em frente à complexidade do
mundo, a realização de que há muito mais cinza num mundo que antes a
protagonista tomava como preto no branco. É sobre a escolha que se faz quando
sua fé é despedaçada perante a realidade. O roteiro retorna a essa escolha em
diversos momentos e com uma variedade de personagens, fazendo com que a trama
avance em um bom ritmo e não deixando que o espectador se esqueça do que está
sendo apresentado. O final do arco de Diana e Steve Trevor é especialmente
bonito, reunindo todos os temas até aí apresentados e oferecendo uma resposta
às perguntas feitas.
A crítica mais fácil de ser feita ao roteiro
está na falta de um vilão realmente convincente. Apesar de possuir atores excelentes
no papel dos antagonistas, como Danny Huston como general Ludendorff e Elena
Anaya como a Dra. Isabel Maru a.k.a. Doutora Veneno, o filme dá pouco tempo
para que eles sirvam como algo mais que os “caras maus” alemães, com o Deus da
Guerra, Ares, puxando as cordas por baixo dos panos. Porém, quanto mais se vê e
se pensa sobre o filme e o que Patty Jenkins quis dizer com ele, chega-se à
conclusão de que o verdadeiro vilão é própria guerra.
A Primeira Guerra Mundial é vista hoje como
um dos confrontos mais sangrentos e sem sentido da história da humanidade, em
que milhares de vidas foram perdidas em razão de motivos pífios mascarados em
ideias de patriotismo. É um dos eventos mais vergonhosos da história humana, e
um exemplo de tudo o que existe de ruim sobre nós mesmos. E esse é o verdadeiro
mal contra o qual a Mulher-Maravilha luta. O confronto que, de novo nas
palavras de Trevor, “... talvez seja
culpa de todos nós. Talvez seja minha, também.”
O inimigo de Diana não pode ser vencido por
armas convencionais ou táticas de batalha, pois se trata de algo intrínseco a
natureza dos homens e que fará Diana decidir se os homens são merecedores ou
não da sua proteção, afinal.
***
É ainda mais difícil saber se um tema será
efetivo ou não perante a audiência. Eu gostaria sinceramente de poder dizer que
é algo específico no roteiro ou na direção, ou até na atuação ou na edição, ou
mesmo uma combinação de todas essas coisas, mas isso não seria verdade. Um
filme que possui verdadeiramente tema,
coração e identidade é aquele
feito por pessoas que possuem uma convicção no
que estão fazendo e pelo que o estão fazendo. É o tipo de coisa que
não pode ser comprada, não importa quanto dinheiro esteja envolvido: é algo que
precisa estar lá desde o início da produção, claro na mente de todos os
presentes.
Mulher-Maravilha
é a mais nova prova de que o gênero dos super-heróis ainda tem muito a
oferecer, da maneira com que olhamos e reconhecemos os heróis ao nosso redor
até a maneira com que reconhecemos os heróis e vilões em nós mesmos. O roteiro,
a música, a atuação e a direção entram em conjunto para construir uma
experiência divertida, imersiva e, acima de tudo, significativa. A Mulher-Maravilha é, sem dúvidas, a heroína de que
precisávamos.
Não se fazem mais filmes como
esse.
Isso é o que quase todo crítico irá te dizer
sobre “La La Land”, o que é completamente verdadeiro. Sendo assim, o que eu
posso dizer sobre o segundo filme de Damien Chazelle, estrelado por Emma Stone
e Ryan Gosling? Bom, apenas uma coisa:
“La La Land” é um sonho.
Mia (Emma Stone) e Sebastian (Ryan Gosling)
são dois artistas frustrados vivendo hoje em Los Angeles, perseguindo seus
respectivos sonhos na cidade grande e, através de coincidências dignas de musicais
dos anos 70, se conhecem e se apaixonam.
Nada nessa sinopse pode te preparar para a
experiência que é ver “La La Land” no cinema.
Eu vi esse filme em uma sessão lotada que
terminou por volta de 20h. Havia uma sessão logo depois, as 21h. Foi preciso
todo o autocontrole que meu corpo fragilizado foi capaz de fornecer para que eu
não jogasse tudo para os ares e voltasse para o sonho que há pouco me escapara.
“La La Land” me manteve com um sorriso nos
lábios do início ao fim. Isso se deve à aura de simples e completo otimismo que
Chazelle consegue intuir em cada cena e ainda sim construir uma trama muito bem
feita e realista. É um musical com um feel
daqueles dos anos 50 como “Cantando na Chuva” e “Os Guarda-Chuvas do Amor”
executado com técnicas modernas tal como o uso ao mesmo tempo orgânico e
meticuloso de planos sequências durante as cenas de dança e que se preocupa com
questões contemporâneas de fama, sucesso, ambição e amor.
Alguém que olhe de longe poderia assumir que
esse é um filme que glorifica Los Angeles e a indústria de Hollywood, servindo
apenas como um clássico escapismo cinematográfico. Porém, basta um olhar atento
e uma mente aberta para que essa visão seja provada equivocada. Em seu âmago,
“La La Land” é um filme sobre sonhadores, e qualquer elemento onírico presente
na cidade em que esses sonhadores vivem é um subproduto de seus próprios sonhos
e esperanças.
Damien Chazelle consegue, assim como em
“Whiplash – Em Busca da Pefeição”, fazer maravilhas com suas cenas e seus personagens,
merecendo sua Globo de Ouro de melhor diretor e sua nomeação ao Oscar. Todas as
locações são reais e tangíveis, fazendo com que o espectador se sinta livre
para explorá-las a seu bel prazer, com cinematografias de cair o queixo e um
roteiro simples e encantador com visuais ecléticos e coloridos.
A única e verdadeira crítica que eu posso
fazer de “La La Land” é que embora seus protagonistas sejam carismáticos e
consigam carregar o filme sem nenhum problema, seus personagens secundários
servem apenas ao propósito das cenas em que aparecem ao invés de servir ao
filme como um todo, de modo que no final da sessão eu me lembrava deles não por
seus nomes, mas sim por suas relações com os personagens principais: as amigas
da Mia, a irmã do Sebastian, os pais da Mia. Esse é um problema que também
existe em “Whiplash”, - o pai do Andrew, a família do Andrew, a namorada do
Andrew – e que eu realmente achei que o Chazelle poderia ter superado.
Ironicamente, no entanto, esse defeito é menos evidente aqui do que em
“Whiplash”, já que aqui as personagens aparecem por um tempo muito mais curto e
nunca são colocadas no mesmo grau de importância da trama principal.
Quanto às músicas e a trilha sonora, é
preciso realmente tirar o chapéu para o compositor Justin Hurwitz: ele cria
melodias tão animadoras quanto dramáticas que juntas formam algo realmente
belo. O mesmo pode ser dito com relação à coreografia de Mandy Moore e a
dedicação de toda a equipe.
Emma Stone dá uma das melhores performances
de sua carreira, dando tudo de si numa personagem que em mãos menos experientes
acabaria chata e sem graça. O timing
de comédia de Ryan Gosling continua a impressionar, como já tinha dado para ver
em “Dois Caras Legais”, de Shane Black, estrelado por Russel Crowe e Ryan
Gosling. Juntos, eles formam um casal intenso e complementar, conquistando
facilmente a simpatia do público. O comprometimento dos protagonistas com a
cena não é nada menos do que louvável, ambos tendo de aprender a executar suas
danças sem nenhum corte e Gosling tendo de aprender a tocar piano em um espaço
de tempo de apenas alguns meses.
Seria fácil colocar uma música de fundo ou
apenas um clipe e eu te convenceria imediatamente da mensagem que eu estou
tentando te passar aqui: você precisa
ver “La La Land” no cinema enquanto ainda é tempo. Mas eu não gostaria de
te roubar da experiência de viver algo verdadeiramente novo e especial, porque
honestamente, é exatamente isso que “La La Land” é: especial. Vá ao cinema
esperando por isso e eu prometo que você não irá se desapontar.
Pois é.
“La La Land” é tudo isso mesmo.
E ainda um pouco mais.
“La La Land” é um sonho.
Diário: Parte II
06.11.2016
Total de 1690 palavras hoje. Primeiras 1690 palavras do livro. Não foi tudo escrito hoje, na verdade; parte escrevi ontem, mas pelo menos já alcancei o primeiro selo do desafio (1667 palavras). Não é tão fácil quanto eu achei que seria. Quero dizer, estou acostumada a escrever todos os dias, mas meu volume de palavras é bem menor do que a proposta do desafio. Meu total de palavras diários (considerando um dia normal com todas as minhas atividades de rotina) é de 500 a 600 palavras, um terço do necessário para conseguir a meta de 50.000 palavras em um mês. Não acho que seja impossível, só não está dentro do meu padrão de escrita. Terei que encontrar uma forma de vomitar palavras, porque, né? Quero muito vencer esse desafio. É importante para mim como escritora - provar para mim mesma que consigo terminar, consigo trabalhar sobre pressão: consigo realmente encarar a escrita mais como uma profissão, menos como um hobby.
07.11.2016
Cheguei ao total de 2647 palavras. 947 palavras escritas hoje. Um pouco mais da metade da quantidade padrão para alcançar a meta e considerando que comecei atrasada, não é exatamente um bom resultado. Deveria ter um total de 11.000 palavras hoje. Está bem claro que estou longe desse número, mas pelo menos consegui quase que dobrar meu volume de palavras. Acho que o que está me atrapalhando, principalmente, é meu perfeccionismo de sempre. Talvez se eu conseguir me soltar um pouco mais - relaxar com esse projeto. Não ficar tão tensa com a quantidade de palavras e com o fato de estar tão para trás, talvez eu consiga aumentar o fluxo. Mas a verdade é que não consigo parar de olhar o meu status no NaNoWriMo e constantemente me lembro que estou para trás. Talvez não esteja para trás da média, mas estou atrás do necessário para vencer esse projeto.
08.11.2016
Total: 3515. Palavras escritas hoje: 868.
09.11.2016
Total: 5043. Palavras escritas hoje: 1528.
Ufa, 1528 palavras escritas hoje. Confesso que procrastinei muito hoje... Teve sessão de LoL e Skype, mas ainda sim, foram 1528 palavras! Bem mais do que todos os outros dias. Se eu continuar aumentando meu fluxo de palavras, talvez consiga recuperar o tempo perdido. Óbvio que preciso continuar trabalhando: ainda estou para trás e ainda estou escrevendo diariamente menos palavras do que o recomendado, mas pelo menos acho que estou pegando o jeito. Em questões numéricas, 10% do total já foi escrito. Agora é só correr atrás dos outros 90%.
Ufa, 1528 palavras escritas hoje. Confesso que procrastinei muito hoje... Teve sessão de LoL e Skype, mas ainda sim, foram 1528 palavras! Bem mais do que todos os outros dias. Se eu continuar aumentando meu fluxo de palavras, talvez consiga recuperar o tempo perdido. Óbvio que preciso continuar trabalhando: ainda estou para trás e ainda estou escrevendo diariamente menos palavras do que o recomendado, mas pelo menos acho que estou pegando o jeito. Em questões numéricas, 10% do total já foi escrito. Agora é só correr atrás dos outros 90%.
10.11.2016
Não escrevi tanto, meu dia foi um pouco corrido hoje, com faculdade e treino de vôlei. Mas mesmo quando não estava escrevendo, minha cabeça não parava de pensar na minha trama. De certa forma, estou me divertindo com o projeto. Quero dizer, em geral eu costumo planejar tudo antes de escrever - personagens, acontecimentos importantes, plot twist... Tudo! Então quando começo a escrever, já tenho claro na minha mente cada detalhe. Mas dessa vez, não tinha nada planejado. A única coisa que tinha era uma premissa e dela estão surgindo meus personagens e a trama. A cada dia descubro um pouco mais sobre quem são meus personagens; até agora ainda não sei muito bem quem é o antagonista, quem é o agente-duplo... Quais são as reais intenções de cada um. Enquanto escrevo, sinto como se estivesse lendo um livro e descobrindo os detalhes da trama aos poucos. Para alguém pragmática como eu, é um pouco estressante em alguns momentos, mas também é divertido.
NaNoWriMo é a abreviação de National Novel Writing Month, um projeto do Office of Letters and Lights que consiste em um mês de incentivo para a produção de livros, dando suporte motivacional para escritores do mundo inteiro.
O projeto funciona em modo de desafio: no período de um mês, o escritor deve superar a meta de 50.000 palavras. Ou seja, qualquer um pode vencer o desafio, desde que escreva as 50.000 palavras que, em uma formatação Arial, tamanho 12, equivale a aproximadamente 150 páginas.
É um sistema de auto-desafio, pois o autor não escreve para ninguém além dele mesmo. O livro não é digitado no site: o autor pode escrevê-lo na plataforma que preferir, até a mão, bastando manter sua numeração de palavras atualizadas. Ninguém lê o trabalho, apenas o próprio autor, como durante o processo criativo de qualquer obra, mas o desafio está lá para motivá-lo a continuar escrevendo, apresentando estatísticas de avanços e presenteando-o com selos por cada pequena vitória (consistente no número de palavras escritas).
Uma vez que vou participar do desafio este ano, decidi escrever paralelamente um diário, para registrar meu progresso e meus pensamentos durante o processo criativo. Quem sabe será útil em um futuro próximo (ou distante mesmo).
Diário: Parte I
01.11.2016
Decidi participar espontaneamente. Não tinha planejado participar, mas hoje lembrei que era 1º de novembro e que começava o NaNoWriMo. Sempre tive vontade de me desafiar, por que deixar para depois? Então, esse ano vai. Vamos ver o que vai sair dessa vez. Vou sair um pouco no atraso, pois não me planejei então não tenho nenhuma trama em mente. Poderia usar o Roleta Russa, mas meu trabalho com ele é revisão e não escrever, então não conta. Vou precisar começar algo do zero. Então, hoje só criei minha conta. Vou precisar de um ou dois dias para escolher o que vou escrever.
02.11.2016
Não escrevi e - confesso - também não parei e pensei na trama. Vai dar muito errado. O tempo passa muito rápido. Um mês não é nada. Preciso me focar nisso se quiser terminar o projeto. Não posso abandonar no primeiro dia.
03.11.2016
Abri minha pasta de projetos e meus olhos foram direto para um arquivo relativamente antigo chamado "CAMPANHA 12 OBJETOS". São anotações minhas de uma partida de RPG que eu comecei a mestrar com meus primos e meu ex-namorado baseado em D&D. Faz muito tempo que não escrevo nada de fantasia. Aliás, tenho vários projetos na minha pasta nesse gênero, mas acho que perdi um pouco do meu lado fantasioso depois dos meus quinze anos. Está mais do que na hora de abrir meu leque criativo. Coloquei esse projeto como o livro a ser escrito - e comecei com uma incrível marca de 20 palavras. Sensacional. Assim eu vou longe.
04.11.2016
Já tive minha primeira crise hoje. Não sei se quero escrever 12 objetos. A trama é relativamente complicada e perfeccionista que sou, vou me perder nos detalhes. Até porque recentemente (alguns meses atrás) dei uma organizada nos meus projetos e coloquei 12 objetos junto com outros dois projetos, também do mesmo universo, para serem trabalhados juntos. Vou precisar trocar de projeto. Trabalho em dobro. Que droga. Queria ter me preparado antes. O jeito agora é correr atrás do prejuízo.
05.11.2016
O dia começou melhor hoje. Decidi trocar o projeto. Aos invés de escrever sobre 12 objetos, vou trabalhar em outra trama que também estava na minha lista de espera, cujo título provisório é "Maldição dos Vampiros Gêmeos". Ainda está no universo fantasioso, mas está mais próximo do que eu geralmente escrevo (tirando o fato de ter vampiros como personagens principais). A parte boa? Estou mais confortável com essa história. A parte ruim? Já se foram cinco dias. Partiu escrever?
O dia começou melhor hoje. Decidi trocar o projeto. Aos invés de escrever sobre 12 objetos, vou trabalhar em outra trama que também estava na minha lista de espera, cujo título provisório é "Maldição dos Vampiros Gêmeos". Ainda está no universo fantasioso, mas está mais próximo do que eu geralmente escrevo (tirando o fato de ter vampiros como personagens principais). A parte boa? Estou mais confortável com essa história. A parte ruim? Já se foram cinco dias. Partiu escrever?
De Olhos Fechados: Resenha de Caixa de Pássaros
By Luísa Scheid - quarta-feira, setembro 14, 2016

Caixa de Pássaros (em
inglês, Bird Box) é um thriller psicológico pós-apocalíptico, do escritor
americano Josh Malerman, que também é compositor e cantor de uma banda de rock
chamada The High Strung. O romance é a obra de estreia de Marleman e foi publicado
inicialmente no Reino Unido em 2014. No Brasil, o romance foi publicado pela
Editora Intrínseca, tradução de Carolina Selvatici, com 272 páginas.
A edição brasileira é
muito boa, principalmente na questão do visual.A trama segue os passos da
personagem Malorie durante dois tempos distintos: nos primeiros eventos
envolvendo “O Problema”, que explicarei logo abaixo, que chamarei de passado, e
aproximadamente cinco anos após o início destes eventos, o presente de Malorie.
A narrativa não segue ordem
cronológica, alternando episódios de presente e passado, e mesmo dentro destes
dois tempos há algumas reflexões da personagem principal referente a períodos
distintos. Apesar de ser narrado em terceira pessoa, a trama segue, em sua
maioria, o ponto de vista de Malorie.
O
Começo do Problema – Passado
Malorie é uma estudante
universitária que vive no sul de Michigan com sua irmã Shannon. Enquanto
Malorie se preocupa com a descoberta de sua gravidez decorrente de um “one night stand”, sua irmã Shannon,
viciada em televisão, se mostra envolvida com reportagens sobre pessoas
enlouquecendo, atacando outros e, por fim, cometendo suicídio.
Parecem apenas rumores.
Apenas casos isolados. Logo no início, Malorie se mostra muito cética em
relação às ocorrências, principalmente porque os primeiros casos acontecem na
Rússia. Ela acredita que se tratam de coincidências, mas começa a admitir que
realmente há algo de errado quando tais incidentes começam a aparecer no Canadá
e ao norte de Michigan. As mortes são horríveis e, ao que
parece, o surto se inicia quando se vê
alguma coisa.
Aos poucos, as pessoas deixam de conviver entre si, evitando olhares e até mesmo evitando sair de casa, fechando portas e janelas com lençóis escuros, papelão, colchões. TV e internet deixam de funcionar...
Até as autoridades pedem que seus cidadãos fiquem em casa. Com medo,
Malorie e Shannon se protegem dentro de sua própria casa.
Não existe mais o mundo
exterior. Só estarão seguras enquanto estiverem dentro de casa, onde não verão
estas coisas que enlouquecem quem quer que as encontrem. Coisas estas que
ninguém sabe o que é... Se não monstros, se são animais... As visões são chamadas de criaturas, mas ninguém sabe determinar
exatamente o que são, como são. Todos que já as viram estão mortos.
Quando Malorie encontra
sua irmã morta dentro da própria casa, restando implícito que ela se suicidou
após ver uma criatura, ela decide se abrigar
em um refúgio que viu em um anúncio. Ao chegar na referida casa, Malorie
conhece cinco sobreviventes que moram juntos: Tom, Don, Jules, Felix e
Cheryl.
Os episódios do passado
mostram a incerteza da situação; todo o medo que os sobreviventes sentem e a
insegurança que o mundo fora de casa lhe dá. Uma vez que eles não podem ver a criatura sem enlouquecer, tudo é
vendado: portas e janelas, e toda que vez que precisam de algo do mundo
exterior, como água, comida ou mesmo ajuda, sua única proteção contra o
desconhecido são as vendas que cobrem seus olhos.
A
Fuga – Presente
As
crianças desenvolvem uma audição quase que sobre-humana, audição esta que
Malorie necessita para que os três possam fugir daquela casa em direção a um
lugar que acredita ser mais seguro do que a casa em que vivem.
Em uma manhã de neblina,
Malorie decide se arriscar na jornada para qual se preparou desde o nascimento
de seus filhos. A fuga consiste em remar através do rio que passa perto de sua
residência até seu destino, vendada, sem nenhuma arma e contando apenas com a
audição de seus filhos.
Opinião
Pessoal
Tentarei ao máximo ser fiel
à minha real opinião sobre este livro ser dar muitos spoilers.
Primeiramente, a narrativa
de Malerman é muito envolvente. O autor conseguiu prender minha atenção desde o
primeiro capítulo. De fato, o desenvolvimento da trama é devagar, mas faz parte
do estilo. As descobertas são feitas pouco a pouco. O leitor que, como eu,
não leu nenhuma resenha, que não sabe de nada da trama, demora a realmente
entender o que está acontecendo.
No primeiro capítulo só descobrimos que Malorie está fugindo. Mas fugindo do que, oras? Só
saberemos depois, no final do capítulo seguinte. E é assim que a história é
contada: com cada peça nos sendo entregue, uma a uma, aos poucos. Não há uma
chuva de informações.
Aliás, não há informações.

O grande triunfo do livro é
exatamente esta brincadeira com o desconhecido, que não necessariamente é o
mesmo para todo mundo. De fato, todos temem a mesma coisa, a criatura, mas esta criatura não tem forma expressa: a criatura pode ser qualquer coisa.
Corporalmente falando, a criatura pode ser o que o sobrevivente (e o leitor)
mais teme, ou pode ser algo que sequer o aterroriza, mas a criatura é, acima de tudo, o medo.
Quero dizer, a
criatura é personificação do medo.
O triunfo deste livro é,
portanto, brincar com as próprias percepções de medo do leitor. Afinal, do que
você tem medo? O que seria capaz de te enlouquecer a ponto de você desejar
tanto a morte que chega a cometer suicídio das formas mais horrendas que a
sociedade pode imaginar? Repito: do que você tem
medo?
Eu, particularmente, tenho
medo dois grandes medos: barulhos e escuro. Óbvio, tenho outros medos, como
medo de morte violenta ou dolorosa, medo de violências em geral, mas os que
importam para essa resenha e que são mais marcantes são meus medos de barulhos
e escuro.
Meu medo de barulho está
muito vinculado ao susto que eu tomo. Não é como se eu tivesse medo de qualquer
barulho. É mais a questão de não estar esperando que algo vá acontecer – ou
seja, não estar esperando o barulho atravessando meus ouvidos. O inesperado me
pega e eu grito. Pronto, esse é meu medo de barulho.
O de escuro é um pouco mais
“sério”. Não sou do tipo que não dorme no escuro. Quando estou
em casa, ou mesmo na casa de algum parente ou amigo, por exemplo, durmo
tranquilamente. Não acho que nenhum monstro vai sair do meu armário, não acho
que tem bicho-papão embaixo da minha cama. Sei que estou segura e o escuro
nessas situações não me incomoda.
O que não gosto do escuro é
a insegurança. Medo é uma coisa complicada de se explicar, então vou dar um
exemplo para explicar melhor no que consiste meu medo de escuro. Recentemente
fui a um daqueles jogos de Escape Room, que consiste em escapar de uma sala
trancada em até sessenta minutos. Para conseguir sair, você precisa decifrar
diversos enigmas dentro da sala.
A minha trama consistia em
achar documentos importantes e sair da sala antes que ela “explodisse”. Não teria explosão nenhuma. Era apenas
um jogo. Mas o jogo, a vontade de sair, de vencer, o fato de a sala estar
realmente trancada, minha mente imaginativa, a música de suspense que estava
tocando, tudo isso me gerou um estado de nervosismo.
Um estado de querer saber o
que iria acontecer.
Imagina como fiquei quando a
luz apagou.
Entenda, estava em um
ambiente controlado e sabia que nada de ruim realmente aconteceria comigo, mas,
ainda sim, meu cérebro não tinha consciência do que realmente aconteceria
comigo. Consequentemente, fiquei com medo. Muito medo!
Mas, Luisa, por que você
está fazendo uma sessão de terapia no meio da resenha? Pois, como disse, o
livro mexe com o maior dos seus medos. E esses dois são os meus.
Em outras palavras, fiz todo
este discurso para dizer que a criatura, o que quer que ela seja, não
mexeu comigo. Apesar da consciência de que era a criatura que deveria ser minha fonte de medo, que deveria ser a
personificação do medo, para mim a parte mais amedrontadora era o fato de
Malorie e outros terem que se valer de vendas e de sua audição para ingressar
no mundo exterior.
Escuro e barulhos.
Isso sim é amedrontador para
mim. Tanto que é por isso que qualquer filme de terror porco, se tiver a trilha
sonora e a sequência de quadros corretas, consegue me assustar facilmente.
Apesar disto, não fiquei com
medo em momento nenhum durante a leitura. Já tive livros e até mesmo relatos de
experiências mais mundanas que realmente me deixaram arrepiadas, mas não este.
No máximo, me deixou curiosa. Queria saber o que estava acontecendo.
Não teve medo, teve
encantamento pela premissa do livro. Pela trama no geral. Fiquei com aquele
aperto no peito de: “MEU DEUS! Preciso terminar esse livro agora. Preciso saber
o que vai acontecer.”, mas em momento nenhum me assustei, mesmo quando Malorie
julgava que estava perto de uma criatura ou mesmo quando uma das personagens
estava com medo da criatura ou, ainda, quando Malorie escutou a morte de
alguém.
Nada disso me deu medo ao
ler.
Vai entender?
Ainda assim, a
leitura foi muito prazerosa. A narrativa é viciante do começo ao fim,
principalmente quando chega no clímax da trama. É reviravolta atrás de
reviravolta. Uma pena, contudo, que não engoli o final. Em um determinado
momento, muita coisa acontece ao mesmo tempo – e o final, bom...
Vou deixar minha impressão,
mas vai depender do leitor ler para entender o que quero dizer. O final é
consistente com a premissa? Sim. Está dentro do universo e faz todo o sentido.
Isto significa que eu gostei? Não. Não gostei do final, pois sou do tipo que
gosta de histórias amarradas. E é tudo que posso dizer.
Em resumo, a premissa, a
trama, é maravilhosa; a grande maioria dos detalhes da narrativa é muito bem
trabalhada (não todos, porque algumas coisas foram desnecessárias para mim). O
desenvolvimento do enredo é impecável, com a alternância de momentos de pico e
momentos de calmaria. Mas o final, para mim, deixou a desejar.
Outro ponto que não me
agradou muito foi a construção de personagens.
Malorie é uma personagem
consistente e seu desenvolvimento psicológico é bem claro na narrativa. Todas
as suas reações são fundamentadas pelas circunstâncias, de forma que toda sua
ligação com o Problema, desde a perda do seu ceticismo até o advento de sua
frieza é muito bem trabalho. Apesar de ser a personagem principal, não é minha
personagem preferida. Confesso que não costumo gostar de personagens principais
em geral, mas admito o mérito de Malerman no seu desenvolvimento.
Os personagens secundários
Tom, Don e Garoto também foram muito bem trabalhados. Tom, que é um
ex-professor de ensino fundamental, emana liderança e é claramente a
personificação da esperança da casa. Seus objetivos são muito claros desde o
primeiro momento, assim como sua maior frustração. Em resumo, é um personagem
muito humano e com personalidade.
Don, exatamente por seu ar
problemático e, por vezes, antagonista, é também um dos personagens bons da
trama. Sua forma de lidar com o Problema, querendo a todo custo sobreviver,
mesmo que isso signifique não deixar mais ninguém entrar na casa, é plenamente
plausível e eu não esperaria que fosse diferente. Sempre tem alguém que é mais
frio que os outros – ou que, quando a situação aperta, pensa antes em si
próprio do que em todo o resto do grupo. Natural e coube muito na trama.
Garoto, de fato, não é cheio
de personalidade, mas existe uma razão para isso. É um menino de quatro anos
que nasceu e cresceu em universo de medo e insegurança. Criado e treinado como
se dentro de um quartel de general, a única coisa que precisa fazer é escutar o
mundo exterior. Basicamente, ele faz o papel dos ouvidos de Malorie, sua mãe, e
é só isso que deve fazer. Não pode reclamar, não pode conversar. Só pode falar
se estiver escutando algo. Uma super-criança
do mundo apocalíptico.
Entre os personagens bons,
por fim, meu preferido é o Gary. Não apenas porque ele é diferente dos outros,
não apenas porque seu discurso é contrário ao discurso de medo que dominou a
humanidade, mas porque eu sou apaixonada por cofcofvilõescofcofdoidoscofcof.
Nada mais direi. Leiam e entendam – ou não entendam, porque com certeza tem
quem não goste dele.
Tirando estes personagens,
todos os demais são, de certa forma, desnecessários. Talvez desnecessários seja
uma palavra muito forte; quero dizer que eles não têm personalidade. Não têm
história. Não tem paixão. Não tem expectativas.
De fato Jules é o parceiro
de Tom nas jornadas pelo mundo exterior e ele é dono do cachorro Victor, a quem
ama muito. Mas é tudo que sei dele. Felix, por sua vez, adora uma maconha. Sua
única participação importante na trama é um dos planos que elabora com Tom. Só.
Cheryl é só um nome para
mim. Nada mais. Ela podia ter sido misturada com Olympia. Uma só entre as duas
seria o suficiente. Quanto a Olympia, perdão pelo spoiler, mas achei um pouco
clichê a gravidez dela. Aliás, achei muito clichê o fato de os dois bebês
nascerem na mesma hora. Em consequência, não me apetece muito o fato de a
Malorie ficar com os dois bebês no final. Para mim, um era o suficiente,
independente do sexo.
Aliás, só jogando pra cima,
já que quem não leu talvez não entenda, não gostei de toda a cena do parto.
Quero dizer, não do parto em si, mas do que acontecia em paralelo a isto. Em
parte porque torci por alguns personagens, em parte porque queria um pouco de
romance naquele pandemônio todo. Não teve.
Dito tudo isso, pode parecer
que não gostei do livro. Pelo contrário, gostei bastante. A leitura em si me
cativou muito. Tive alguns desgostos pontuais sim, mas tenho consciência que
eles são tão pessoais que provavelmente passariam despercebidos por outras
pessoas. Apesar dos meus sentimentos dúbios em relação ao livro como um todo,
ainda sim indicaria a leitura.

Nada é mais o que era
É o que quer que sobrou de mim
Já não é mais eu
É o que quer que sobrou de mim
Já não é mais eu
***
No ciberespaço fustigado
Pela comodidade do embaraço
Quando o céu do nosso porto
Não passa de um canal de televisão
Seus olhos são só
Um AVI distraído
Um coral de lágrimas
No mar de miúdos
O aço lúcido,
Os cílios caídos
Nos ventos de Julho
Pela comodidade do embaraço
Quando o céu do nosso porto
Não passa de um canal de televisão
Seus olhos são só
Um AVI distraído
Um coral de lágrimas
No mar de miúdos
O aço lúcido,
Os cílios caídos
Nos ventos de Julho
Inspirado na obra de William Gibson