
Eu o amei há alguns anos. Eu era uma criança no corpo de uma mulher e ele já era um homem barbado. Era uma recém maior de idade que achava que já conhecia a vida, mas que na verdade era apenas uma criança um pouco mais velha. Eu o encantei com o sorriso e o jeito de menina; ele me ganhou na esperteza, nas frases bem acentuadas e seguidas mesóclises. Como uma relação professor-aluna, ele dizia saber mais e querer ensinar… Ele me preencheu e me inundou.
Ele me naufragou.
Ele me mostrou seu lado príncipe e depois se revelou um monstro. Feito vendaval, roubou minha inocência e minha confiança. Jogou no lixo minhas crenças e pintou meu mundo de preto e branco. Depois do inferno que ele me proporcionou, como descrever o que restou?
Não sou mais a garota do sorriso de trinta e dois dentes, não sou mais a menina dos amores platônicos. Não sou mais a menina do vestido vermelho. Não sou mais a menina cheia de sonhos. Sou apenas o que restou da menina. Sou a mulher que cresceu no meio da ruína psicológica que ele deixou. Tenho medo do escuro e do amor. Tenho medo de abrir a porta e de me entregar.
Tenho pavor de encontrar com uma nova versão do tempestade que foi amá-lo e não sobreviver.