Pega Leve Com Você



Você pode ler esse texto ao som de
“Mika – Relax, Take it Easy”


Esses dias comecei a reparar no
diálogo interno que travo comigo mesma e eu fiquei assustada com a ferocidade
com a qual me atacava – e isso tudo no automático. Demorou pra eu tomar
consciência e entender o absurdo que eu estava fazendo.

Eu gosto muito de uma frase que vi
no filme “Comer, rezar, amar”: escolha seus pensamentos com o mesmo cuidado
que escolhe suas roupas.
Fácil falar, difícil fazer. Mas realmente
precisamos nos tratar melhor. É infernal conviver com um juiz interno que fica
condenando cada atitude e cada pensamento seu. É um ciclo: você acha que tá
pensando merda e daí você se acusa por ter feito isso e daí se acusa por estar
se acusando e assim a coisa segue. Não tem fim se você não intervir.

É
treino.


Praticar essa intervenção requer
muito autoconhecimento e muita consciência – que a gente vai adquirido conforme
se abre para perceber coisas que antes não percebíamos, seja dentro ou fora de
nós. É interessante. Você vai descobrindo seus pontos fracos, seus pontos
fortes, seus medos, suas fortalezas… É uma delícia. Mas precisamos ponderar: em
alguns momentos pegamos pesado demais (demais, demais, demais, demais) a ponto
de achar que não temos solução, que somos perdidos, que somos aberrações. Mas
isso é narcisismo puro camuflado de vitimismo.

Nossas dores não são maiores que as
de ninguém, nossos defeitos podem sim ser trabalhados e nós não somos tão
exclusivos assim para receber em doses altas de concentração várias mazelas de
uma vez só. Não há nada tão novo assim abaixo do sol. Não menosprezando ou
diminuindo nossas dores, mas só enfatizando mesmo que não dá pra viver com
coitadismo. É egoísmo sim achar que somos os únicos passando por algo
complicado. Somos mimados, muito mimados. Acho que não preciso explicar que
cada um possui qualidades complementares – e por isso precisamos nos unir – e
que somos todos especiais de jeitos diferentes, mas quando nos culpamos tanto
por algo, acabamos num certo tipo de contradição. Perceba que muitas vezes
somos muito bons ao dar conselhos aos outros, mas acabamos não os praticando.
Faz sentido? Não, não faz. Somos uma contradição e vida que segue.

Treino.

Eu fico pensando qual o motivo para
que nos torturemos assim quando pisamos na bola (ou quando achamos que pisamos,
o que é bem diferente). Pensa comigo: somos humanos, somos mortais, somos
complexos, estamos em constante evolução (as vezes em regressão, mas ok),
vivemos em um universo gigante, cheio de pessoas que provavelmente sentem
coisas parecidas, que se fazem as mesmas perguntas, que sentem os mesmos medos…
Por que só você é tão ruim assim? Por que achar que todas suas dúvidas e seus
medos te reduzem a nada? Pra quê se diminuir desse jeito?
Pega leve. Somos aprendizes eternos
por aqui e não tem problema falhar (fácil falar, difícil dizer). Mas tenta.
Tenta de verdade, com consciência, deixar de lado a ideia de que tem algo
errado com você, de que você não merece as coisas e que tudo conspira contra
sua vida. É sua mente te enganando – e você não é sua mente. Cuida de você com
muito cuidado, porque se aí dentro as coisas estiverem meio desandadas, você se
perderá nos seus passos. E sempre que você se pegar sendo rude e intolerante
contra seus próprios pensamentos, sentimentos e ações, calma! Você corre um
grande risco de estar sendo exagerado. E acho que quanto mais nos conhecermos,
mais vamos saber lidar com isso de modo natural. Podemos escolher entre sermos
nossos melhores ou piores amigos. Treina pra ficar com a segunda opção.
Texto por Karina Angolini