O poeta e a própria pena



Foto: Afrodite de Doidalses, Museo Nazionale Romano
como posso ser apenas uma pessoa
quando meu coração,
minha mente, minha alma
todos me dizem que sou
duas?
sou uma pessoa que
vive em casa
mas que sempre se
sente um estranho;
uma outra que anda
sobre almofadas
e que vive
aterrorizada;
uma dessas que sorri o
tempo todo
e que nunca diz o que
pensa;
o poeta
e a própria pena.
há uma rainha de ossos
no meu peito
ela expira crueldade,
ela respira minha maldade
comprimindo meus
órgãos até pará-los
ela não está feliz
com o estado do meu
coração
e ela não sabe como
pedir perdão.
há um rei renegado no
meu crânio
que não é limitado por
correntes
e que me prende a um
ideal absoluto
que me faz questionar
tudo o que eu acho que sei
e tudo o que eu
deveria saber
ele não faz ideia
do que minha mente era
para ser
mas ele só sabe
que eu poderia ser
melhor.
o rei e a rainha se
enfrentam, impiedosos
e não percebem a
criança que chora em minha alma
e que implora para o
fim da batalha
para que ela possa
procurar nesse campo
desgraçado,
amaldiçoado, torturado
qualquer lugar para
chamar de lar.