Você Não Presta





“Você não presta”

  Não presto mesmo, não para o seu ideal
machista de que mulher não pode beber, não pode sair de noite, não pode sentir
prazer com sexo. Não presto para a ideia de que “mulher que se preze”
não pode ter amigo homem, não pode falar palavrão e não pode mostrar as pernas.


 Não presto para
essa sua historinha de que minha saia é curta demais ou eu deveria usar menos
maquiagem – e que eu deveria me importar mais com meus pneuzinhos se quero
namorar. Não presto para a ideia de que se eu rio alto é porque quero chamar
atenção – ou se estou com decote, você tem todo o direito de encarar.

 Não presto
para a dita “mulher perfeita”. Não presto para essa divisão estúpida de mulher
para casar e mulher para pegar – e se minha lista for maior que sua, automaticamente
me torno para pegar. Para isso, não presto mesmo. Não presto para o seu
discursinho sobre meus pelos, depilados ou não.

 Para essa imagem, eu não presto mesmo. Não
presto para sua imaginação doentia de que “mulher boa” tem que estar
em casa esperando o marido, com o jantar na mesa, um sorriso no rosto e a
vontade de massagear os pés dele porque tem o “dever” de, como se a
mulher vivesse apenas para o homem… Como se toda a existência dela fosse
baseada nisso.

 Pode me chamar dos nomes mais machistas que
conseguir pensar, falar que sou mal-comida e que preciso de uma bem grande – dizer
o que mais sua limitada mentalidade do século passado for capaz de criar.

 Pode me
olhar decepcionado, me medir de cima a baixo, me recriminar com xingamentos
vazios, sem um argumento que se sustente – pode falar, é só o que você sabe
fazer, mas, mal ai, amigo, para essa sua “ideologia” de mulher
perfeita, eu nunca disse que prestava.