Meu




 O mais engraçado de escrever seu nome em meus livros e cadernos é que ele nunca foi meu. Quero dizer, posso dizer que ele sempre foi meu no sentido que sempre estivemos conectados, não importa com quem estávamos diante da sociedade. Bastava cinco minutos juntos para nossas mãos se encontrarem e mesmo hoje, anos depois, ainda estamos na mesma situação; basta nos vermos, para toda a magia voltar, para nossos corpos se reconhecerem, mesmo sem nunca terem se tocado. Mas, mesmo assim, nunca senti seu calor por completo. Nunca apreciei o sabor de seus lábios.

 Ele mexe comigo – já faz tanto  tempo desde que esta história começou e eu ainda sinto meu corpo todo se revirar em pequenas taquicardias quanto toco sua mão.
 Às vezes acho que ele se sente do mesmo jeito, mas da mesma forma que existe uma força magnética puxando-nos para perto, há também uma enorme carga negativa de passado que nos impede de nos deixar levar. Às vezes acho que, por passarmos tanto tempo “abraçados” e “de mãos dadas”, nem mesmo esses contatos tem o significado que para os outros. Já não carregam as mesmas intenções, ainda que inconscientes, do passado.
 Eu sinceramente não sei o que sinto por ele – nunca soube. Mas às vezes acho que toda a magia de nós dois está no fato de nunca termos tentado; outras, acho que ele será meu eterno amor platônico, meu ponto fraco… meu calcanhar de Aquiles.