
Não sei por onde começar – na verdade, até sei o que quero dizer, mas só de organizar meus pensamentos, meu rosto já arde em chamas. É ridículo – eu me sinto uma garotinha de dez anos e, ao invés de sentir raiva de você por me deixar assim, fico com ódio de mim, porque, bom… boba é pouco para descrever como eu me sinto. Mas não era isso que queria falar – estou enrolando porque não sei articular as palavras que queimam minha garganta.
Tenho um pouco de medo da sua resposta, da sua reação – talvez o medo maior seja de você sequer responder, se fazer de louco e ignorar as coisas que me perturbam a cabeça nos últimos tempos. Não devia falar, tenho consciência de que não sei nada sobre você, sobre sua vida, sua rotina. O pouco que sei deveria ser o suficiente para me impedir de jogar essas palavras, mas não é – só consegue me fazer engasgar e enjoar diversas vezes seguidas. Não consigo nem engolir nem vomitar esse amargo-doce que me envenena. Estou divagando de novo porque não consigo nem mesmo pronunciar minhas verdades, mas não posso mais prolongá-las no vácuo do não-dito. Não sei quando e se vou ter outra oportunidade de falar sobre isso, por isso espero que entenda e tente não me julgar.
Eu não sei quem você é; conheço seu nome, sua voz, um pouco do seu gosto musical e que você tem namorada. E é tudo que sei. Não sei dizer quando, nem como, esse pouco me encantou. Não deveria me deixar contagiar – você é grosso e na maior parte do tempo vive de me perturbar. Não é a melhor combinação para se deixar o coração guiar, mas você me faz rir mesmo quando parece que não existe mais um motivo sequer para sorrir. Mesmo quando me usa como alvo de suas brincadeiras, eu não consigo ficar brava – quando escuto sua voz, meu mundo gira em torno do meu sorriso e o que eu imagino ser o seu. Deixo-me encantar e me afundo em um poço de expectativas que não serão supridas de sua parte. Mas nem por isso deixo de sonhar. O problema é que agora que vou embora em definitivo, não posso levar essas ilusões comigo, mas também não posso deixar que elas morram sem que você saiba o quão encantador você é.
Entenda: por meses fui a garota que sorria a sua sombra, que trocava o cabelo de posições milhões de vezes para ver se você notava – coloquei minha barriga de fora um dia ou outro, já que minha incapacidade de falar não tem nada de sedutora. Aprendi a cruzar as pernas do mesmo jeito que sua namorada; até descobri a bebida preferida dela. Mudei várias coisas para trazer esse amor do platônico para a realidade.
Mas eu não posso mais ficar me alimentando dessa fantasia. Sempre serei a garota que quis ter o seu sorriso, que aprendeu todas as letras da sua banda preferida, mas no passado, não mais no presente.