
Foto: @sanchezz_twin
Eu tenho quatro anos.
Diante de mim, o cabelo comprido que minha mãe cultiva. As bochechas enormes. O sorriso travesso.
Eu tenho oito anos.
Diante de mim, a menina impulsiva e mandona que todos criticam.
Eu tenho doze anos.
Diante de mim, a garota que não se entende com o próprio corpo e que não entende porque ninguém a ama.
Eu tenho catorze anos.
Diante de mim, a garota que finge não se importar e gostar de ser diferente, mas só quer ser aceita.
Eu tenho dezessete anos.
Diante de mim, a garota que tem medo de crescer – que tem medo de amar e que foge das pessoas que tentam ultrapassar os muros que criou.
Eu tenho vinte anos.
Diante de mim, a garota que não quer ser mulher, mas já é obrigada a ser adulta. A garota que prefere viver no seu próprio mundo, porque não quer enfrentar a realidade.
Eu tenho vinte e dois anos.
Diante de mim, a garota que viajou pelo mundo e deixou seu coração em algum lugar, mas teve que voltar para sua realidade.
Eu tenho vinte e cinco anos.
Diante de mim, a garota que se formou na faculdade, mas que não sabe o que vai fazer no futuro.
Eu tenho trinta anos.
Diante de mim, a mulher que quer voltar a ser garota. A mulher que deixou de acreditar no casamento de contos de fadas.
Eu tenho trinta e cinco anos.
Diante de mim, a mulher que corre atrás dos filhos e não tem tempo para si mesma.
Eu tenho quarenta e cinco anos.
Diante de mim, a mulher que desconfia de seu corpo – que se compara com as meninas de vinte.
Eu tenho cinquenta e sete anos.
Diante de mim, a mulher com os fios brancos, que já viveu tanto, mas ainda quer mais tempo para apreciar.
Eu tenho sessenta e três anos.
Diante de mim, a mulher que criou uma família – que dividiu felicidades e tristezas com aquele que escolheu amar.
Eu tenho setenta anos.
Diante de mim, a mulher que ninguém quer escutar – a mulher que todos acham estar caduca.
Eu tenho tantos anos.