
Em
uma guerra entre razão e emoção, só há destruição.
Eu disse que nunca mais amaria. Eu
acreditei veemente nas minhas palavras racionais, decidida a não me impor
nenhum outro sofrimento por pessoas indo embora. Eu me tranquei no meu castelo.
Deixei o mundo manter sua rotina de ilusões e arrependimentos enquanto juntava
o resto do que um dia fora meu coração.
Eu guardei meus sentimentos em uma
redoma, não por serem mais importantes que os outros, mas porque não permitiria
que eles se quebrassem mais uma vez. Eles não aguentariam mais um trinco
sequer. Poupei-os de outros sonhos, de outras fantasias, conservando-os longe
da realidade, dentro da minha fortaleza, na montanha mais alta que consegui
encontrar, crente que ninguém, jamais, conseguiria alcançá-los.
Mas bastou desampará-los por um
momento e lá estava ele a conquistá-los. Eu estava longe demais da minha
fortificação, acreditando que ela seria o suficiente para barrar qualquer tentativa
de tirá-los de sua proteção.
Sequer o vi quando se aproximou.
Confiei cegamente na minha sensatez. Era ilógico imaginar que alguém cometeria
a loucura de escalar as barreiras que eu construí – que alguém enfrentaria toda
a nevasca que impus como obstáculo não apenas aos outros, mas também a mim.
Mas ele destruiu tudo. Ele demoliu
todos os percalços que eu metodicamente escolhi e detalhadamente planejei. Ele
localizou e extinguiu até mesmo aqueles que existiam apenas para impedir que eu
cedesse à vontade de entrar mais uma vez na loucura que chamamos de amor.
Tentei reagir, tentei escapar, sem
êxito. Desafiei-o diversas vezes, questionando-o o porquê de ter suportado
todos os entraves impostos se não valia a pena. Não havia motivo para se
desgastar daquela forma se qualquer coisa boa que aquilo traria logo
esvaneceria como se jamais tivesse existido, deixando o pouco que restaria do
coração em carne-viva. Ele ignorou meu discurso como se sequer o ouvisse – como
se fossem apenas palavras ao vento.
Eu não desistiria. Eu me prometera
que não me deixaria ferir mais uma vez – nem uma lasca sequer. Usei de todas as
minhas forças para afastá-lo, joguei todas as pedras que alcancei – ele aturou
cada um dos tormentos que o fiz passar, sem vacilar, sem hesitar. Não virou as
costas nem quando desejei sua morte. Deixou-me sem armas, deixou-me sem reação.
Tão logo eu fiquei sem defesas, tão
logo caí em seus braços.
Ele sorriu triunfante e então me
mostrou todo o martírio que eu, por teimosia, impusera não apenas a ele, mas a
mim também. Por um instante, pensei que ele quisesse me dar uma lição. Mostrar-me
que fora exatamente minha fuga, minha tentativa desesperada de não amar, de não
sofrer, que trouxera toda a dor.
1 Comentários
Victims of Love, poxa, essa música me lembra de bons tempos.. *-*
ResponderExcluirGostei muito do texto, você escreve muito bem! Consegui me identificar em vários momentos... muito bom!
Obrigada pelo carinho. Beijos :*
Claris - Plasticodelic