Foto: Akshar Dave
Rolei na cama mais uma vez, tentando pela milésima vez encontrar uma posição confortável para dormir, mas não era meu corpo que estava incomodado, mas sim minha mente. Não conseguia parar de pensar em nós, ou melhor, em como não existia mais o “nós”. Quando eu fechava os olhos, eu me lembrava. Não precisava forçar muito, elas caminhavam naturalmente. Bastava me concentrar na escuridão e no silêncio do meu quarto, que minha mente se enchia de lembranças.
Era por isso que mantinha meus olhos abertos, encarando a solidão da escuridão. Não facilitou; podia estar livre das memórias, mas fui consumida ainda mais forte pelos sentimentos. Sabia que era o certo a se fazer quando tomei minha decisão, sabia que só sobrara sofrimento onde antes havia muito amor. Não que não houvesse mais amor, mas a dor crescera tanto que o bom da nossa relação ficou mudo. Mas nada disso me consolava... não tinha mais você para me consolar, e não haveria mais.
Rolei para o outro lado, jurando para mim mesma que seria a última movimentação, que eu dormiria a qualquer custo. De frente para a parede, senti o frio da noite me consumindo e me lembrei de seu abraço tão terno sempre a me esquentar. Não consegui. Deixei-me levar pelas lágrimas, crente que elas lavariam minha alma, levando meus sentimentos embora. Não lutei contra o choro; não sei por quanto tempo ele me dominou, mas quando minha respiração acalmou, senti-me vazia por dentro. Todas as coisas ruins haviam desaparecido, mas eu ainda pensava no que já não existia mais, mas não me deixava dormir. Lembrei-me de como costumava dormir feliz revivendo nossos dias juntos. Sentei-me na cama. Minha mente não ia me dar paz naquela noite.
Acendi a luz do abajur e do lado estava nosso pote de sorrisos, com todas as coisas que dividimos durante nosso tempo juntos... Todas as coisas que me fizeram sorrir. Sem pensar, eu o peguei e o abrir, lendo cada um dos bilhetes. Uma a uma, as lembranças boas foram preenchendo minha mente.
Lembrei-me do castelo, da grama. Lembrei-me do cheiro de alecrim, da comida temperada. Lembrei-me do poema, das conversas sobre o universo. Lembrei-me dos signos, dos sinais. Lembrei-me dos jogos, das verdades, dos segredos. Lembrei-me das noites, dos finais de semana. Lembrei-me do abraço, do "latrocínio" e de outras tantas piadas que apenas nós entendíamos. Lembrei-me das gordices, do ratinho. Lembrei-me dos frappucinos, dos cafés e de diversas outras coisas que não sabia explicar quanta felicidade cabia dentro de mim por elas terem acontecido.
Por último, lembrei-me dele. Olhei para minha estante. Ele estava lá, sorrindo para mim – parrudo, firme e forte. Meu tuelho de pelúcia. Não pensei duas vezes; levantei na meia-luz, peguei-o e deitei mais uma vez. Sabia que não o devia fazê-lo, mas não consegui evitar. Ele ainda tinha o seu cheiro e eu o apertei tão forte que ele sumiu entre meus braços. Eu precisava ser forte, precisava seguir em frente, mas não naquela noite. Naquela noite, eu só precisava dormir – e só você conseguiria me ajudar.