Foto: @portraitsbydanailya
Contos de Fadas Reais
Quem sou eu?
Sou a garota que abriu os olhos e entendeu que a vida é pior que a Cruella Devil, que não há uma Fada Madrinha pra me transformar e que o Príncipe Encantado não vai me salvar do sono
eterno com um beijo e nem subir a torre pelas minhas tranças. Aquela que deixou de
acreditar que contos de
fadas existem, que aprendeu que por mais que tente, nunca será uma princesa e nem vai ter seus sonhos realizados
pelo gênio da lâmpada. A que não viu o sapo se transformar em príncipe, que sequer beijou o sapo.
A garota que não sabe voar com as orelhas e que não conheceu o país das Maravilhas. Aquela que não dividiu o macarrão com o amor da sua vida. Aquela que não se tornou rainha ao tirar a espada da pedra, nem roubou dos ricos para dar aos pobres. Não foi salva por um casal de ratinhos, não andou no tapete mágico. Não foi a rainha da selva, nem uma heroína grega. Sim, sou aquela mesma.
A menina que nunca teve brinquedos que se moviam e se aventuravam por ai, que não salvou a China e que não tinha um monstro no armário. A garota que não continuou a nadar - que sequer aprendeu a nadar. Não tinha poderes sobrenaturais, como invisibilidade ou super agilidade, e nem ganhou um alienígena como melhor amigo.
Aquela que sabe que não precisa comer uma maça envenenada para ter problemas e que não tem um grilo falante para ajudá-la a resolvê-los. A que não vai
encontrar uma rosa
encantada em
uma zona proibida do castelo, que não consegue construir um castelo de gelo e que nem sequer mora em um castelo.
A garota que quebrou o
próprio sapatinho
de cristal, que não viu a fera se transformar e que não conhece a bruxa do mar para ajudá-la a conquistar seu amor.
Aquela que não foi para a Terra do Nunca, que não conheceu os sete anões e que não acredita mais que pó de fada exista. Eu sou aquela, e apenas aquela garota. Conheço todas as suas princesas, mas jamais serei uma delas.
(2008, reescrito em 2014)