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Olhei-me no espelho, acreditando
que dessa forma toda coragem que eu precisava surgiria feito relâmpago. Ali,
trancada no banheiro, tentei reviver tudo que me trouxera até aquele momento,
até aquele lugar. Meses e meses de espera, sonhando com o dia que eu
conquistaria aquele garoto; sim, aquele garoto que estava atrás da porta, à
espreita. E então, quando a oportunidade de tê-lo finalmente chegara, como uma
presa eu correra para o banheiro dele, querendo respirar, querendo fugir de
seus braços.
Encostei minhas costas na porta,
tentando me acalmar. Era como se eu pudesse escutar a respiração dele através
da única coisa que nos separava; eu sabia que era ele. Com o corpo forçando a
porta, tentava entender o que se passava pela minha cabeça enquanto ele esperava
o momento em que eu finalmente permitiria sua aproximação.
Eu também queria saber em que ele
pensava; de fato, eu sabia que não era o mesmo que eu. Quantas outras já
tiveram a oportunidade de tocá-lo antes de mim? Nunca me atreveria a perguntar;
e, no entanto, ele sabia que seria meu primeiro. Saber o que acontecia no meu
interior dava-lhe uma imensa vantagem sobre como agir, enquanto eu tentava não
enlouquecer... Eu não podia enlouquecer, eu precisava me acalmar... ou o
perderia para sempre.
Nunca me perdoaria se, depois de
tanto tempo sendo somente a amiga, ele ficasse fora do meu alcance mais uma vez.
Não, naquela noite provaria que a pessoa que ele procurava era eu, o que eu já
sabia desde... sempre.
Eu nunca mais seria apenas a
melhor amiga; eu seria a mulher que ele tanto queria. Não poderia ser tão
difícil... Apenas por uma noite! Eu satisfaria todos os desejos canibais dele,
os mesmos desejos que por anos eu sentira crescer dentro de mim e nunca tivera
fibra o suficiente para concretizá-los. Eu me transformaria de presa, a
predadora.
-Carol? – Eu escutei-o
chamando-me; seu tom de voz preocupado assustou-me por um instante. Quanto
tempo perdera ali, lutando contra meus medos, contra meus desejos animais?
-Já estou saindo. – respondi,
tentando soar o mais confiante possível. Uma última olhada no espelho e estaria
pronta. Com a mão na maçaneta, escutei a movimentação do cômodo ao lado; ele
havia me dado espaço, não me atacaria assim que eu abrisse a porta. Respirei
fundo antes de sair; aquele era meu último momento de concentração, meu último
momento sozinha antes de... tudo que eu, tão ferozmente, desejava.
Diante dele, à porta de seu
quarto, eu o encarei; ele fitou-me em retorno e eu pude sentir a química
crescendo. Eu sabia onde eu queria estar, e definitivamente não era no
banheiro. Como se pudesse ler minha mente, os lábios dele abriram em um sorriso
malicioso; não me contive e abri um parecido, igualmente sedutor, igualmente
predador.
-O que está esperando? – Foi tudo
que eu consegui dizer. Ele soltou um riso sádico, tentando esconder a surpresa
que minhas palavras causaram-lhe; não o recriminei, até eu não me reconhecia. O
garoto se levantou, dirigindo-se a mim. Por um momento, todo aquele medo voltou
a correr pelas minhas veias. Eu queria fugir, queria me esconder dele; dele e
de seu corpo. Mas não... Eu não o negaria; não... Não me negaria o prazer pelo
qual eu clamava. Eu já entregara meu coração a ele. O que haveria de errado em
entregar o resto?
No, I won’t sleep
tonight.