Foto: Afrodite de Doidalses, Museo Nazionale Romano
como posso ser apenas uma pessoa
quando meu coração,
minha mente, minha alma
todos me dizem que sou
duas?
sou uma pessoa que
vive em casa
mas que sempre se
sente um estranho;
uma outra que anda
sobre almofadas
e que vive
aterrorizada;
uma dessas que sorri o
tempo todo
e que nunca diz o que
pensa;
o poeta
e a própria pena.
há uma rainha de ossos
no meu peito
ela expira crueldade,
ela respira minha maldade
comprimindo meus
órgãos até pará-los
ela não está feliz
com o estado do meu
coração
e ela não sabe como
pedir perdão.
há um rei renegado no
meu crânio
que não é limitado por
correntes
e que me prende a um
ideal absoluto
que me faz questionar
tudo o que eu acho que sei
e tudo o que eu
deveria saber
ele não faz ideia
do que minha mente era
para ser
mas ele só sabe
que eu poderia ser
melhor.
o rei e a rainha se
enfrentam, impiedosos
e não percebem a
criança que chora em minha alma
e que implora para o
fim da batalha
para que ela possa
procurar nesse campo
desgraçado,
amaldiçoado, torturado
qualquer lugar para
chamar de lar.
Tema 02
Como você se sente quando alguém não te ama?
Se não me quer, não me conquiste.
Não me obrigue a sentir esse vazio no peito.
Não me inflija esse tormento.
Logo a mim, que não pedi para me apaixonar.
Jamais quis me entregar...
Mas estou em suas mãos.
Para acariciar
Ou para sufocar.
Não me sufoque. Não me tire os sonhos.
Afaste-me do ciclo das desilusões
Ou será condenado pelo homicídio da parte mais ingênua e
doce de mim.
Não abra esse sorriso de Sol
perto de mim
Ou me derreterei...
Ou já me derreti
E esqueci que assim quer for
embora voltarei para a escuridão da solidão.
Não. Não. Não.
Se não me quer, não me conquiste.
Esse texto faz parte do Projeto 365 Temas.
a pessoa certa
irá te tratar como um clássico empoeirado
com folhas amassadas
páginas amareladas
e uma capa desbotada
e irá pedir que você se abra mil vezes
pra que ela possa ler as mesmas palavras
- e você vai saber que é uma leitura envolvente
Foto: @willsantt
Na minha mente de criança,
éramos estrelas cadentes
a iluminar o céu
e conceder desejos
Éramos eternas e imortais
Éramos luz
Lutando contra o medo
e contra a escuridão
Na minha mente de criança,
éramos guerreiras,
armadas e preparadas
com balões de água
a jogar felicidade
nos corpos secos.
Na minha mente de criança,
éramos professoras de travessuras,
éramos líderes da nação dos gnomos,
éramos mocinhas e vilãs.
Na minha mente de criança,
éramos Mulan e Pocahontas,
éramos Moana e Elsa,
mas também queríamos ser Cinderela.
Na minha mente de criança,
éramos tudo que queríamos ser.
Nada é mais o que era
É o que quer que sobrou de mim
Já não é mais eu
É o que quer que sobrou de mim
Já não é mais eu
***
No ciberespaço fustigado
Pela comodidade do embaraço
Quando o céu do nosso porto
Não passa de um canal de televisão
Seus olhos são só
Um AVI distraído
Um coral de lágrimas
No mar de miúdos
O aço lúcido,
Os cílios caídos
Nos ventos de Julho
Pela comodidade do embaraço
Quando o céu do nosso porto
Não passa de um canal de televisão
Seus olhos são só
Um AVI distraído
Um coral de lágrimas
No mar de miúdos
O aço lúcido,
Os cílios caídos
Nos ventos de Julho
Inspirado na obra de William Gibson
Quem nunca se perdeu num olhar? Aquele olhar que mata e faz suspirar ao
mesmo tempo. E por pior que ele possa ser, nós sempre achamos que aquele é
olhar que tanto procuramos.
O brilho de um olhar
Pode encantar
Pode fazer amar
Pode conquistar.
O brilho de um olhar
Pode maltratar
Pode fazer chorar
Pode matar
O brilho de um olhar
Apenas o brilho do seu olhar
Pode simplesmente acabar
Com tudo que eu costumava acreditar
Foto: @sanchezz_twin
Eu tenho quatro anos.
Diante de mim, o cabelo comprido que minha mãe cultiva. As bochechas enormes. O sorriso travesso.
Eu tenho oito anos.
Diante de mim, a menina impulsiva e mandona que todos criticam.
Eu tenho doze anos.
Diante de mim, a garota que não se entende com o próprio corpo e que não entende porque ninguém a ama.
Eu tenho catorze anos.
Diante de mim, a garota que finge não se importar e gostar de ser diferente, mas só quer ser aceita.
Eu tenho dezessete anos.
Diante de mim, a garota que tem medo de crescer - que tem medo de amar e que foge das pessoas que tentam ultrapassar os muros que criou.
Eu tenho vinte anos.
Diante de mim, a garota que não quer ser mulher, mas já é obrigada a ser adulta. A garota que prefere viver no seu próprio mundo, porque não quer enfrentar a realidade.
Eu tenho vinte e dois anos.
Diante de mim, a garota que viajou pelo mundo e deixou seu coração em algum lugar, mas teve que voltar para sua realidade.
Eu tenho vinte e cinco anos.
Diante de mim, a garota que se formou na faculdade, mas que não sabe o que vai fazer no futuro.
Eu tenho trinta anos.
Diante de mim, a mulher que quer voltar a ser garota. A mulher que deixou de acreditar no casamento de contos de fadas.
Eu tenho trinta e cinco anos.
Diante de mim, a mulher que corre atrás dos filhos e não tem tempo para si mesma.
Eu tenho quarenta e cinco anos.
Diante de mim, a mulher que desconfia de seu corpo - que se compara com as meninas de vinte.
Eu tenho cinquenta e sete anos.
Diante de mim, a mulher com os fios brancos, que já viveu tanto, mas ainda quer mais tempo para apreciar.
Eu tenho sessenta e três anos.
Diante de mim, a mulher que criou uma família - que dividiu felicidades e tristezas com aquele que escolheu amar.
Eu tenho setenta anos.
Diante de mim, a mulher que ninguém quer escutar - a mulher que todos acham estar caduca.
Eu tenho tantos anos.
Foto: @freestocks
Apenas silêncio.
Estou morta?
Meu peito dói.
Meu coração se corrói.
Não respiro, não sinto.
Tenho pouco tempo.
Qual segundo viver?
O olhar penetrante,
O beijo delirante,
O abraço sufocante?
Passam as flores
As mãos e os doces
Em vivas e revivas cores.
Triste, preto e branco,
Apenas enxergo o fim.
E depois que todo o encanto passou, e depois que o sol se pôs, o que
nos sobra? Apenas a vista das gotas da chuva escorrendo pelas nossas feridas.
(Luísa Scheid)
(Luísa Scheid)
Hoje foi um dia muito bonito.
Mas que pena
Que o sol se escondeu
E que no fim da tarde choveu.
Lembra-me meus sentimentos por você
Tão perfeito e tão belo
Mas depois que tudo acabou
Foto: @eberhard_grossgasteiger
Sinta o silvestre perfume
De limão e alecrim
Da montanha, no cume
Onde a noite não tem fim
Venha cá, sem medo
Ver o para sempre chegar
Vou realizar seu desejo
De uma estrela tocar
Tão perto da tentação
Pode já ter o prazer
Feche os olhos à escuridão
E não verá o sol nascer
Basta um singelo contato
Para ter dos lábios o sabor
Todo o sentimento será selado
Em mistura de mel e odor
O doce sussurro do vento
Diz em sua sedutora melodia
Ainda nos sobra tempo
Aqui jamais chegará o dia.