O poeta e a própria pena

By Luísa Scheid - domingo, junho 24, 2018

Foto: Afrodite de Doidalses, Museo Nazionale Romano


como posso ser apenas uma pessoa
quando meu coração, minha mente, minha alma
todos me dizem que sou duas?
sou uma pessoa que vive em casa
mas que sempre se sente um estranho;
uma outra que anda sobre almofadas
e que vive aterrorizada;
uma dessas que sorri o tempo todo
e que nunca diz o que pensa;
o poeta
e a própria pena.

há uma rainha de ossos no meu peito
ela expira crueldade, ela respira minha maldade
comprimindo meus órgãos até pará-los
ela não está feliz
com o estado do meu coração
e ela não sabe como
pedir perdão.

há um rei renegado no meu crânio
que não é limitado por correntes
e que me prende a um ideal absoluto
que me faz questionar tudo o que eu acho que sei
e tudo o que eu deveria saber
ele não faz ideia
do que minha mente era para ser
mas ele só sabe
que eu poderia ser melhor.

o rei e a rainha se enfrentam, impiedosos
e não percebem a criança que chora em minha alma
e que implora para o fim da batalha
para que ela possa procurar nesse campo
desgraçado, amaldiçoado, torturado
qualquer lugar para chamar de lar. 


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