[Sem Título]

Seus olhos
acinzentados me fitavam com ar lúgebre. Eu permaneci inquieta no meu lugar,
meus pés não paravam de contundir o chão. Respirei fundo e disse a mim mesma
que era coisa da minha cabeça. Sim, só poderia ser, afinal qual outra
explicação racional? Faltava apenas mais dez minutos para aula acabar. Saindo
dali eu estaria livre daquele olhar perturbador que causava arrepios
tenebrosos.
Assim que a campainha soou, eu fui a primeira
a me levantar para ir embora da sala de aula, no entanto assim que abri a porta
senti um calafrio desconcertante outra vez e me vi paralisada, não conseguia
dar um passo adiante, tampouco retroceder. Então em meio ao silêncio que fazia
escutei uma voz, uma voz punjante. Aquilo não podia estar acontecendo, me virei
para ver quem era e senti uma mão pesar sobre meu ombro. Era ela, a nova aluna,
garota bizarra na classe.
- Raquel, você está de
saída?- ela me perguntou com sua voz rouca e horripilante. A sua mão ainda
estava em meu ombro e eu sentia um peso anormal.
Minha respiração
acelerou, meu coração parecia querer sair de dentro de mim, minha voz falhou,
mas depois de alguns segundos consegui falar, ou quem sabe horas. Não poderia
dizer exatamente quanto tempo passou.
- Eu... Eu, estou indo
para casa.
Ela me lançou um olhar de cima abaixo e com
um sorriso temeroso disse:
- Acho que não vai
mais.
Daquele momento em diante eu não consegui mais
me lembrar de nada que ocorreu. Quando voltei a razão estava num sala de aula
abandonada, escura e vazia. Tudo que escutava era a sua risada tenebrosa, e um
cheiro forte, o qual não conseguia identificar mas escutei o barulho de algo
fervendo, me perguntei como seria possível se naquele quarto sombrio não havia
nada. Tentei me levantar, tentei me mover, mas me vi impossibilitada. Eu estava
amarrada. Céus! Como aquilo era possível? Quis gritar, mas ao abrir a boca não
emiti qualquer tipo de som. Era o meu fim, eu pensei. O meu fim! A pequena
bruxa caminho com passos lentos em minha direção e parou na minha frente, me
fitando. Só consegui enxergar seus olhos acidentados. Eu queria fugir, eu não
queria estar ali, mas estava e completamente impotente. Suas unhas compridas e
pretas se afiaram ainda mais, como um gato. Naquele exato momento soube que
iria morrer.
Ela deu mais uma gargalhada histeria de forma
macabra e cravou suas unhas em meu braço, a porção estava em um cordão que
usava em forma de caldeirão, o quebrou e me enfiou goela a baixo. Fiquei tonta,
enxerguei tudo embaço, mais uma vez ouvi o som de sua risada quando ela soltou
um barulho muito comum, mas sob efeito entorpecente da porção não consegui
identificar. A última coisa que vi e senti foram suas afiadas unhas na minha
garganta. Sufoquei.
- Carolina!Carolina!!
O que foi que aconteceu filha?- perguntou minha mãe às três da manhã,
nitidamente assustada.
- Eu... Eu...
- Meu bem, fiquei
preocupada. Pensei que alguma coisa tinha te acontecido. Levantei assim que
ouvi seus gritos de socorro.
Olhei ao meu redor, passei a mão pela minha
testa, encharcada de suor. Coloquei a mão no meu coração que pulsava
freneticamente e foi tranquilizante sentir que ainda estava viva. Porém ao
olhar para o criado mudo tornei a me desesperar. Ela estava ali. Minha mãe não
foi capaz de compreender o meu desespero. Ela estava ali me encarando, todo o tempo!
Com aquele mesmo olhar acinzentado e unhas afiadas, fazendo aquele barulho
desconcertante. Me desesperei, surtei. Era ela!
- O que foi, Carolina?
Desde quando a pequena Matilde te assusta? Ela só está preocupada, não é
gatinha?
Tudo que escutei foi
um tímido mweo. E tudo que quis foi fugir dali. Pus a mão em meu pescoço e
percebi que sangrava. E ela continuava a me olhar com aqueles olhos cinzas.
Nenhum comentário: