Ms. Marvel: Nada Normal, G. Willow Wilson e Adrian Alphona
- resenha por Gabriel Oliveira -
Quando se escreve sobre temas sociais, é terrivelmente fácil perder o rumo.
Ou você usa o tema apenas como uma jogada de marketing e esquece completamente de usá-lo para benefício da história, ou você se concentra tanto o dito tema e acaba por escrever um artigo ao invés de uma história, construindo argumentos ao invés de personagens.
Mas algumas vezes, não muitas, mas algumas, você escreve certo.
1. Introdução
Com roteiro de G. Willow Wilson (Air, Cairo) e ilustrações de Adrian Alphona (Fugitivos) a Marvel apresenta a novíssima Miss Marvel: Kamala Khan, uma garota normal de Nova Jersey– bem, só até ela ganhar poderes extraordinários e assumir o manto de super-heroína. Mas será que a imatura Kamala está preparada para arcar com as consequências de seus novos dons?
Mas afinal, quem é a nova Miss Marvel? Adolescente? Inumana? Muçulmana? Reunindo as edições 1 a 5 de Ms. Marvel e uma história retirada de All-New Marvel Now! Point One 1, é essa pergunta que o primeiro encadernado lançado pela Panini procura instigar.
2. O roteiro
A escolha de Wilson como roteirista não poderia ser mais acertada. Leitora assídua de quadrinhos, natural de Nova Jersey e posteriormente convertida ao islamismo, Wilson era a escolha óbvia para lançar uma nova heroína de origens paquistanesas no Universo Marvel.
Wilson demonstra uma sensibilidade incrível ao tratar sobre temas polêmicos e conturbados dos dias de hoje, em que extremismos políticos e raciais estão cada vez mais presentes nas grandes mídias. Logo nas primeiras páginas, Ms. Marvel escapa dos achismos e se esforça para criar empatia entre o leitor e suas personagens, sem se importar com gênero ou raça. Wilson nunca tenta forçar os temas que se propõe a explorar, ao contrário, eles permeiam a HQ com ambição e naturalidade, apresentados de maneira forte e evocativa.
Kamala é uma personagem extremamente carismática e que consegue cativar o leitor com seus pensamentos imaturos e insights poderosos.
“Bem não é uma coisa que você é. É uma coisa que você faz.”
Os diálogos de Wilson são engraçados, prazerosos e cativantes, durante a maior parte desse primeiro volume e, no resto, simplesmente lindos.
O único problema que eu senti foi a falta de um antagonista claro durante essas cinco primeiras edições, o que é compreensível, afinal estamos falando de uma personagem e de uma história completamente nova.
3. Os traços
As ilustrações de Alphona acompanham o ritmo da obra, bastante coloridas, estilosas e joviais, até com um quê de surrealismo uma vez ou outra. As expressões faciais das personagens também são muito bem desenhadas e deixam bem claro as emoções que Wilson descreve. Devido à natureza dos novos poderes de Kamala, é interessante dizer que as ilustrações não tentam ser realistas, adotando assim uma postura mais cartunesca tanto para com as personagens quanto para com o ambiente.
4. Conclusão
Ms. Marvel é uma HQ importante. Uma HQ importante tanto para o troll politicamente incorreto quanto para o feroz guerreiro da justiça social, pois em seu âmago, Ms. Marvel é uma ótima HQ, cheia de humor e personalidade. Ela não se deixa definir pelos temas que aborda e, muito pelo contrário, ela os define na própria história que conta, criando empatia com o leitor num delicioso ritmo de leitura que dura da primeira à última página.