O Retrato de uma Dama

É impossível
saber para onde ela olha.
Não importa o quanto você divague sobre o
que jaz, ou melhor jazia, por trás do
pintor, é improvável que alguém algum dia me convença que sabe exatamente o que
não está naquele quadro.
Suas mãos repousam em seu colo, acariciando
o vestido de renda rosa, enquanto seus diminutos pés balançam na parte inferior
da pintura. Suas mechas louras estão delicadamente arrumadas num coque visível somente
daquela posição semi perfil que o pintor tão sabiamente escolheu para a sua
musa.
Embora musa
não fosse a palavra mais adequada, afinal não passava de uma criança. Talvez modelo se adequasse mais, mas mesmo
assim, aquela dama não era nenhuma modelo, e se por acaso parecesse, é porque o artista a modelou assim. Ela tampouco
é a ciente, afinal é mais provável que seu pai tenha pagado pelos serviços do
bom pintor.
O que isso faz dela então?
E é aí que os olhos dela me dão a resposta.
Ela, assim como grande parte da humanidade,
era não aquilo na pintura, mas aquilo fora dela. Para onde ela olhava quando o
artista a capturou naquele momento singular? Essa pergunta me dizia mais sobre
ela do que qualquer mínimo detalhe que o artista tenha capturado naquela
graciosa forma.
Para onde olhamos quando estamos capturados
no momento?
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