Não Queira Me Contar Todas as Verdades do Mundo

Se você gosta de mim, não queira me contar todas as verdades do
mundo.
Não fure meus sonhos inflados
por achar que o chão é mais seguro.
Não me entupa de palavras, me
deixe flutuar num mar cálido e silencioso,
Mesmo que mais à frente ele
desague num precipício.
Conhecer a dor da morte não me
priva dela, então que eu me dedique mais a contemplar a beleza da vida.
Se você gosta de mim, não venha me ensinar a
comer pelas bordas
Não me jogue âncoras disfarçadas de boias
Porque eu já sei construir minhas próprias
ilhas.
Não me resgate da minha situação de náufrago, da
minha ambição de alcançar as estrelas e tocar a linha do horizonte, porque
mesmo que eu morra afogada será num oceano de doçura.
Não te dou mais a liberdade de trazer esses
olhos nublados que já não sabem precipitar e se perder no espaço abstrato dos
sentidos.
Vou ignorar essa finca entre os seus olhos
cavada pelas velhas verdades do mundo.
Já não te faço companhia nesse realismo sensato
e chato.
Porque acho que as almas apodrecem de tão
maduras.
E é de olhos abertos que eu escolho o intenso ao
cuidadoso.
É nessa mesma pele que se esfola, que nascem e
se preservam os arrepios.
E eu continuo preferindo ser pele do que
armadura.
Se for entrar, esqueça as
preocupações, os conselhos e os medos do lado de fora.
Aqui se tornam inúteis os
curativos, os salva-vidas, as capas de chuva, as tesouras de podar galhos
excedentes, as pílulas, os olhos de piedade, os alfinetes e as fitas métricas.
Pois o que busco saber e sentir está além do mensurável, do visível e da dor.
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