Aeroporto

By Luísa Scheid - quarta-feira, abril 01, 2015


"And when the daylight comes I'll have to go
But tonight I'm gonna hold you so close"
(Daylight - Maroon 5)



Aqui estou ao lado dele - apenas eu, ele e a certeza de que o tempo está passando. Nenhum de nós fala, ou sequer age. Estamos parados, sem nos olharmos - quem sabe até sem respirar. Talvez assim, se fingirmos que o mundo parou de girar, o tempo realmente deixe de correr e possamos ficar aqui enquanto quisermos, pelo tempo que desejarmos - apenas eu e ele.

Mas o tempo está passando.

Eu escuto seu coração, escuto a batida ansiosa de seus dedos na mesa, mas não ouço seus pensamentos e, sinceramente, é o que mais me importa. Quero saber o que corre por de trás dos seus olhos castanho-esverdeados - preciso ter a certeza de que também está se perguntando como vai ser acordar a mais de nove mil quilômetros de mim; se vai procurar meu perfume no travesseiro; se vai suspirar alto ao lembrar que daqui para frente estaremos separados.

Quero perguntar tanta coisa - questionar seu silêncio, entender o dedilhar suave em minha perna - e quero dizer todas as palavras que me engasgam uma por uma. Mas eu preciso de tempo.

E ele está passando rápido demais.

Sinto minhas verdades subindo-me a laringe, mas quando nossos olhares se encontram e se fixam, a coragem foge, e logo o verde de suas íris também. Ele foge do meu olhar inquisidor e apaixonado, mas eu o conheço bem o suficiente para saber que, na realidade, ele está se esquivando das palavras que estão quase escapando por sua própria garganta, como a coragem me escapa.

Como o tempo nos escorre por entre os dedos.

A tela acima de nós avisa que é hora. Trocamos um olhar triste, um meio sorriso e nada mais. Ele me pega pela mão e eu sigo ao seu lado como quem caminha para a execução - com a certeza do fim, a vontade de voltar no tempo e o amargo da tristeza intoxicando o peito.

O peito e o silêncio.

A única coisa que me mantém em condições de caminhar é a mão dele na minha - não preciso de muito mais enquanto tiver seu calor no meu frio. Mas ele não ficará por mais tempo.

Quando paramos, ele me abraça antes que eu possa fitar seus olhos. Sei que é sua forma de evitar as lágrimas - as minhas e, principalmente, as dele. Ele me aperta contra seu corpo e, por um momento infinito, nos tornamos um só. Peito com peito, dor com dor.

Soluço com soluço, ambos mudos.

Ele me beija e preciso de muita força para deixar apenas meus sentimentos fluírem em sua direção, sem que lágrimas os acompanhem. Quero apenas amor nesse último momento.

Esse último momento, que logo chega ao fim.

Ele pede que eu vá - ele não aguentaria me deixar, eu não aguentaria assisti-lo partir. Não digo adeus e não espero ele se perder no mar de pessoas que atravessam a segurança. Apenas viro as costas e vou; é melhor para mim, é melhor para ele.

Caminho com calma. Um, dois... dez passos. Paro e viro para a última olhada. Aqui estou, a dez passos dele. Lá está ele, enviando-me um beijo pelo ar. O último beijo que verei, o último beijo que receberei.

Amanhã, quando acordarmos, tudo isso será passado. Os sorrisos, os abraços, os beijos. Seus olhos esverdeados, meu cabelo entre seus dedos. As massagens, os filmes. Tudo será guardado no cofre que se chama memória e lá permanecerá, provavelmente intocado. Os sentimentos, por sua vez, serão sufocados. Paixão, companheirismo, amizade, tesão - tudo socado no fundo do peito, amassado e enterrado pelos outros que virão.

A dez passos dele, eu sei que o sentimento que sufocarei é amor. Mas amor precisa de tempo...

E o nosso acabou.

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2 Comentários

  1. Não pago internet pra você ferir meus sentimentos!!

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  2. Amei, ficou muito bom!
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