MENTIROSA
Minha mãe me disse uma vez, entre as diversas lições que ela deveria me dar como boa mãe, que mentir é feio. Eu, ao meus seis, sete anos, ignorei completamente suas palavras - tanto o é que sei de várias histórias que evidenciam o quão mentirosa eu era quando criança. E, olha, eu era das boas.
Mamãe que me desculpe por, mais uma vez como outras tantas, desafiar suas importantíssimas lições, mas eu, particularmente, acho belíssima a arte da mentira, afinal, todo bom escritor é um belo de um mentiroso.
Quem mais, além de um mentiroso, poderia inventar pessoas e tramas capazes de fascinar e envolver os outros? Não é a descrição de como eu dormi mais cedo na outra noite que chama atenção, mas qualquer outra aventura no meio da madrugada.
Eu conto sobre cada uma dessas aventuras como se eu realmente acreditasse nelas - como se eu tivesse vivido todos os segundos dessas tramas - nos meus contos, nos meus poemas. Se os tolos e ingênuos acreditam nos casos estapafúrdios que o conto, paciência. Eu apenas relato, fica a cargo deles acreditar ou não.
Mas é difícil não comprar uma boa mentira. Ela instiga, ela cativa e nos leva a mundos que talvez não chegaríamos se não nos déssemos o direito de acreditar na ilusão, mesmo que apenas por um momento.
É por isso que eu minto. Minto em cada um dos meus personagens e escrevo realidades que estão longe da verdade. Sinto-me bem e quem lê também. Não há nada de errado em enganar um pouco quando só se tem benefício.